Fabaceae

Peltogyne gracilipes Ducke

Como citar:

Eduardo Fernandez; Eduardo Amorim. 2018. Peltogyne gracilipes (Fabaceae). Lista Vermelha da Flora Brasileira: Centro Nacional de Conservação da Flora/ Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

EN

EOO:

2.157,118 Km2

AOO:

36,00 Km2

Endêmica do Brasil:

Sim

Detalhes:

Espécie endêmica do Brasil (Flora do Brasil 2020 em construção, 2018), com ocorrência no estado: RORAIMA, município de Amaraji (Nascimento 54), Boa Vista (Nascimento 57), Canta (Ducke 35151).

Avaliação de risco:

Ano de avaliação: 2018
Avaliador: Eduardo Fernandez
Revisor: Eduardo Amorim
Critério: B1ab(i,ii,iii,v)
Categoria: EN
Justificativa:

Árvore de até 38 m, endêmica do Brasil (Flora do Brasil 2020 em construção, 2018). Popularmente conhecida como pau-roxo, foi coletada em Floresta de Terra Firme e Floresta Ombrófila associadas a Amazônia no estado de Roraima, municípios de Amaraji, Boa Vista e Canta. Apresenta distribuição restrita, EOO=1743 km e três situações de ameaça. Sabe-se que a floresta amazônica perdeu 17% de sua cobertura florestal original principalmente devido à atividades oriundas da agroindústria, pecuária extensiva, infraestrutura rodoviárias e hidrelétricas, mineração e exploração madeireira (Charity et al. 2016). Apesar de figurar como a espécie mais abundante e com regeneração estável em uma floresta dominada de pau-roxo na ilha de Maracá (Nascimento et al., 2007; Nascimento e Proctor, 1997), a espécie possui distribuição restrita, grande potencial econômico pela sua madeira e usos variados na carpintaria e confecção de móveis finos, o que implica em corte seletivo de indivíduos maduros (Silva, 1976). Adcionalmente, a ilha de Maracá sofre historicamente com a ocorrência de queimadas e incêndios severos (Barlow et al., 2010), que afetam diretamente a viabilidade de árvores tropicais de grande porte como P. gracilipes (Silva-Júnior et al., 2018; van Merle et al., 2017). Diante do exposto, portanto, considera-se a espécie Em Perigo (EN) de extinção. Infere- se declínio contínuo em EOO, AOO, extensão e qualidade de habitat e potencialmente no número de indivíduos maduros. Recomenda-se ações de pesquisa (distribuição, busca por novas localidades, censo, números e tendências populacionais) e conservação (Plano de Ação) urgentes a fim de se garantir a perpetuação desta espécie no futuro.

Último avistamento: 1992
Quantidade de locations: 3
Possivelmente extinta? Não
Severamente fragmentada? Sim

Perfil da espécie:

Obra princeps:

Descrita em: Trop. Woods 54: 6. 1938. Popularmente conhecida por pau roxo (Silva, 1976).

Valor econômico:

Potencial valor econômico: Sim
Detalhes: A espécie possui madeira de alta qualidade e de coloração violácea, assim como outras espécies pertencentes a este gênero, o que as tornam apreciadas para a confecção de objetos de adorno e acabamentos finos (Silva, 1976).

População:

Detalhes: Foi a espécie mais abundante e com regeneração estável em uma floresta monodominante de Peltogyne na ilha de Maracá, em Roraima (Nascimento et al., 2007; Nascimento e Proctor, 1997).
Referências:
  1. Nascimento, M.T., Proctor, J., 1997. Population dynamics of five tree species in a monodominant Peltogyne forest and two other forest types on Maraca Island, Roraima, Brazil. For. Ecol. Manage. 94, 115–128.
  2. Nascimento, M.T., Barbosa, R.I., Villela, D.M., Proctor, J., 2007. Above-ground biomass changes over an 11-year period in an Amazon monodominant forest and two other lowland forests. Plant Ecol. 192, 181–191.

Ecologia:

Substrato: terrestrial
Forma de vida: tree
Fenologia: semideciduifolia
Longevidade: perennial
Luminosidade: esciophytic
Biomas: Amazônia
Vegetação: Floresta de Terra-Firme, Floresta Ombrófila (Floresta Pluvial)
Habitats: 1.6 Subtropical/Tropical Moist Lowland Forest
Clone: unkown
Rebrotar: unkown
Detalhes: Árvore até 38 m de altura (Ratter 5893v), ocorrendo em floresta de terra firme e pluvial na Amazônia (Flora do Brasil 2020 em construção, 2018).
Referências:
  1. Peltogyne in Flora do Brasil 2020 em construção. Jardim Botânico do Rio de Janeiro.Disponível em: <http://reflora.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB78750>. Acesso em: 14 Nov. 2018

Ameaças (6):

Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.1 Ecosystem conversion 2.1 Annual & perennial non-timber crops habitat,mature individuals past,present,future national very high
Segundo Fearnside (2001), a soja é muito mais prejudicial do que outras culturas, porque justifica projetos de infraestrutura de transporte maciço que desencadeia outros eventos que levam à destruição de habitats naturais em vastas áreas, além do que já é diretamente usado para o seu cultivo. A produção de soja é uma das principais forças econômicas que impulsionam a expansão da fronteira agrícola na Amazônia brasileira (Vera-Diaz et al., 2008). Um conjunto de fatores que influenciou o mercado nacional e internacional, por meio de um processo de globalização, combinado com a crescente demanda por soja, baixos preços das terras e melhor infraestrutura de transporte do sudeste da Amazônia levou grandes empresas de soja a investir em instalações de armazenamento e processamento na região e, consequentemente, acelerou a taxa na qual a agricultura está substituindo as florestas nativas (Nepstad et al., 2006; Vera-Diaz et al., 2008).
Referências:
  1. Fearnside, P.M., 2001. Soybean cultivation as a threat to the environment in Brazil. Environ. Conserv. 28, 23–38.
  2. Vera-Diaz, M. del C., Kaufmann, R.K., Nepstad, D.C., Schlesinger, P., 2008. An interdisciplinary model of soybean yield in the Amazon Basin: the climatic, edaphic, and economic determinants. Ecol. Econ. 65, 420–431.
  3. Nepstad, D.C., Stickler, C.M., Almeida, O.T., 2006. Globalization of the Amazon soy and beef industries: opportunities for conservation. Conserv. Biol. 20, 1595–1603.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.1 Ecosystem conversion 2.3 Livestock farming & ranching habitat,mature individuals past,present,future national very high
A floresta amazônica perdeu 17% de sua cobertura florestal original, 4,7% somente entre 2000 e 2013, principalmente devido à atividades oriundas da agroindústria, pecuária extensiva, infraestrutura rodoviárias e hidrelétricas, mineração e exploração madeireira (Charity et al., 2016). O aumento do desmatamento entre 2002-2004 foi, principalmente, resultado do crescimento do rebanho bovino, que cresceu 11% ao ano de 1997 até o nível de 33 milhões em 2004, incluindo apenas aqueles municípios da Amazônia com florestas de dossel fechado compreendendo pelo menos 50% de sua vegetação nativa. A indústria pecuária da Amazônia, responsável por mais de dois terços do desmatamento anual, esteve temporariamente fora do mercado internacional devido a presença de febre aftosa na região. Talvez a mudança mais importante que fortaleceu o papel dos mercados na promoção da expansão da indústria pecuária na Amazônia foi o status de livre de febre aftosa conferido a uma grande região florestal (1,5 milhão de km²) no sul da Amazônia (Nepstad et al., 2006).
Referências:
  1. Charity, S., Dudley, N., Oliveira, D. and Stolton, S. (editors), 2016. Living Amazon Report 2016: A regional approach to conservation in the Amazon. WWF Living Amazon Initiative, Brasília and Quito.
  2. Nepstad, D.C., Stickler, C.M., Almeida, O.T., 2006. Globalization of the Amazon soy and beef industries: opportunities for conservation. Conserv. Biol. 20, 1595–1603.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.1 Ecosystem conversion 3.2 Mining & quarrying habitat,mature individuals past,present,future national very high
A mineração representou 9% do desmatamento na floresta amazônica entre 2005 e 2015. Contudo, os impactos da atividade de mineração podem se estender até 70 km além dos limites de concessão da mina, aumentando significativamente a taxa de desmatamento por meio do estabelecimento de infraestrutura (para mineração e transporte) e expansão urbana (Sonter et al., 2017). De acordo com Veiga e Hinton (2002), as atividades de mineração artesanal também têm gerado um legado de extensa degradação ambiental, tanto durante as operações quanto após as atividades cessarem, sendo um dos impactos ambientais mais significativos derivado do uso de mercúrio no garimpo de ouro.
Referências:
  1. Sonter, L.J., Herrera, D., Barrett, D.J., Galford, G.L., Moran, C.J., Soares-Filho, B.S., 2017. Mining drives extensive deforestation in the Brazilian Amazon. Nat. Commun. 8, 1–7.
  2. Veiga, M.M., Hinton, J.J., 2002. Abandoned artisanal gold mines in the Brazilian Amazon: a legacy of mercury pollution. Nat. Resour. Forum 26, 15–26.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.2 Ecosystem degradation 4 Transportation & service corridors mature individuals,habitat past,present,future national very high
Pfaff (1999), em estudo econométrico a nível municipal conduzido na Amazônia brasileira entre 1978–1988, indica que as estradas são um importante fator de desmatamento em toda a Amazônia. Pfaff et al. (2007) apontam ainda o impacto severo da abertura de estradas na Amazônia, que leva invariavelmente a mais desmatamento, não só nos municípios e povoados por onde passam, mas também em setores vizinhos, através do efeito de “transbordamento” (spillover effect). Fernside (2015) argumenta que as estradas atuam como impulsionadoras do desmatamento, atraindo trabalhadores migrantes e investimentos para áreas de floresta anteriormente inacessíveis dentro da Amazônia. Segundo o autor, o desmatamento é então estimulado não apenas por estradas que aumentam a lucratividade da agricultura e da pecuária, mas também pelo efeito das estradas (acessibilidade) na especulação de terra e no estabelecimento de posse de terras. As principais estradas são acompanhadas por redes de estradas laterais construídas por madeireiros, mineiros e posseiros. O desmatamento se espalha para fora das rodovias e suas estradas de acesso associadas. As rodovias também fornecem caminhos para a migração de fazendeiros sem terra e outros, gerando assim o desmatamento em áreas adjacentes. As estradas principais estimulam a construção de estradas secundárias que fornecem acesso a regiões distantes da rota principal da rodovia. Um exemplo importante é a reconstrução planejada da rodovia BR-319 (Manaus-Porto Velho). Estradas laterais abririam o grande bloco de floresta intacta na parte oeste do estado do Amazonas, que incluía vastas áreas de terras públicas - a categoria mais vulnerável à invasão por grileiros e posseiros (Fernside e Graça, 2006). Além disso, o efeito de borda criado pela presença de uma estrada tem forte influência no uso de água pela floresta (Kunert et al., 2015). A construção de uma estrada induz a mortalidade de árvores na borda da floresta devido a danos mecânicos, alteração do microclima, suscetibilidade ao estresse hídrico de árvores que crescem adjacentes à estrada, o que tem provocado mudanças na composição de espécies arbóreas (clímax são substituídas por secundárias) e aumentado a fragmentação (Kunert et al., 2015).
Referências:
  1. Pfaff, A.S.P., 1999. What drives deforestation in the Brazilian Amazon? Evidence from satellite and socioeconomic data. J. Environ. Econ. Manage. 37, 26–43.
  2. Pfaff, A., Robalino, J., Walker, R., Aldrich, S., Caldas, M., Reis, E., Perz, S., Bohrer, C., Arima, E., Laurance, W., Kirby, K., 2007. Road investments, spatial intensification and deforestation in the Brazilian Amazon. J. Reg. Sci. 47, 109–123.
  3. Fearnside, P.M., 2015. Highway construction as a force in destruction of the Amazon forest. pp. 414-424 In: R. van der Ree, D.J. Smith & C. Grilo (eds.) Handbook of Road Ecology. John Wiley & Sons Publishers, Oxford, UK. 552 pp.
  4. Fearnside, P.M., Graça, P.M.L.D.A., 2006. BR-319: Brazil’s Manaus-Porto Velho Highway and the potential impact of linking the arc of deforestation to Central Amazonia. Environ. Manage. 38, 705–716.
  5. Kunert, N., Aparecido, L.M.T., Higuchi, N., Santos, J. dos, Trumbore, S., 2015. Higher tree transpiration due to road-associated edge effects in a tropical moist lowland forest. Agric. For. Meteorol. 213, 183–192.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.2 Ecosystem degradation 5.3 Logging & wood harvesting habitat,mature individuals past,present,future national very high
A floresta amazônica perdeu 17% de sua cobertura florestal original, 4,7% somente entre 2000 e 2013, principalmente devido à atividades oriundas da agroindústria, pecuária extensiva, infraestrutura rodoviárias e hidrelétricas, mineração e exploração madeireira (Charity et al. 2016).
Referências:
  1. Charity, S., Dudley, N., Oliveira, D. and Stolton, S. (editors), 2016. Living Amazon Report 2016: A regional approach to conservation in the Amazon. WWF Living Amazon Initiative, Brasília and Quito.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
2 Species stresses 7.1 Fire & fire suppression habitat,mature individuals past,present,future national very high
A espécie ocorre na ilha de Maracá cuja ocorrência de queimadas e incêndios é evidenciada pelas marcas nos caules das árvores e presença de carvão no solo (Barlow et al., 2010). van Marle et al. (2017) mostraram que até 1987, relativamente poucos incêndios ocorreram na Amazônia e que as emissões de fogo aumentaram rapidamente durante os anos 90. Esses autores descobriram que esse padrão corrobora razoavelmente bem com os conjuntos de dados de perda florestal disponíveis, indicando que embora incêndios naturais possam ocorrer na Amazônia ocasionalmente, as atuais taxas de desmatamento e degradação, ampliadas desde os anos 90, foram a principal causa de aumento na frequência / intensidade dos incêndios nessa região. Silva-Junior et al. (2018) mostraram que a suscetibilidade da paisagem aos incêndios florestais aumenta no início do processo de desmatamento. Em geral, seus resultados reforçam a necessidade de garantir baixos níveis de fragmentação na Amazônia brasileira, a fim de evitar a degradação de suas florestas pelo fogo e as emissões de carbono relacionadas. A redução do passivo florestal decorrente da última modificação do Código Florestal aumenta a probabilidade de ocorrência de degradação florestal pelo fogo, uma vez que permite a existência de áreas com menos de 80% de cobertura florestal, contribuindo para a manutenção de altos níveis de fragmentação. Os mesmo autores preveem que a degradação florestal por fogo continuará a aumentar na região, especialmente à luz do relaxamento da lei ambiental mencionada e seus efeitos sinérgicos com mudanças climáticas em curso. Tudo isso pode afetar os esforços para reduzir as emissões do desmatamento e da degradação florestal (REDD). Esses autores indicam que ações para prevenir e gerenciar incêndios florestais são necessárias, principalmente para as propriedades onde existem passivos florestais que são compensados ​​em outras regiões.
Referências:
  1. Barlow, J., Silveira, J.M., Cochrane, M.A., 2010. Fire scars on amazonian trees: Exploring the cryptic fire history of the ilha de Maracá. Biotropica 42, 405–409.
  2. van Marle, M.J.E., Field, R.D., van der Werf, G.R., Estrada de Wagt, I.A., Houghton, R.A., Rizzo, L. V., Artaxo, P., Tsigaridis, K., 2017. Fire and deforestation dynamics in Amazonia (1973–2014). Global Biogeochem. Cycles 31, 24–38.
  3. Silva-Junior, C.H.L., Aragão, L.E.O.C., Fonseca, M.G., Almeida, C.T., Vedovato, L.B., Anderson, L.O., 2018. Deforestation-induced fragmentation increases forest fire occurrence in Central Brazilian Amazonia. Forests 9, 305.

Ações de conservação (1):

Ação Situação
1 Land/water protection on going
A espécie foi registrada na Estação Ecológica de Maracá (Nascimento 59).

Ações de conservação (1):

Uso Proveniência Recurso
16. Other natural stalk
A espécie possui madeira de alta qualidade e de coloração violácea, assim como outras espécies pertencentes a este gênero, o que as tornam apreciadas para a confecção de objetos de adorno e acabamentos finos (Silva, 1976).
Referências:
  1. Silva, M.F., 1976. Revisão taxonômica do gênero Peltogyne Vog. (Leguminosae-Caesalpinioideae). Acta Amaz. 6, 1–61.